Vaidade ou Investimento?

Acessórios de Luxo
Por: Érika Silva
O mercado de acessórios de luxo, como relógios, anéis e bolsas de grifes renomadas, tem experimentado um crescimento notável no Brasil e no mundo. Marcas icônicas como Rolex, Hermès, Chanel e Louis Vuitton não apenas simbolizam status e sofisticação, mas também se consolidaram como opções de investimento alternativo, rivalizando com ativos tradicionais como ações e imóveis. Mas será que adquirir esses itens é apenas uma expressão de vaidade ou uma estratégia financeira inteligente? Neste artigo, exploramos o fenômeno com base em estudos confiáveis, fontes brasileiras e análises de mercado, destacando por que essa moda vem ganhando força e como ela pode ser mais do que um capricho estético.
O Crescimento do Mercado de Luxo no Brasil
O Brasil tem se destacado como um terreno fértil para o mercado de luxo. Segundo um estudo da consultoria Bain & Company em parceria com a Fondazione Altagamma, o mercado global de luxo enfrenta retração em algumas regiões, mas na América Latina, especialmente no Brasil, a tendência é de expansão. Em 2024, o setor no Brasil cresceu 11,7%, com projeções de 15% para 2025, e espera-se que as vendas atinjam R$ 133 bilhões até 2030. Esse crescimento é impulsionado pela classe AAA, que conta com 1,3 milhão de consumidores de alto poder aquisitivo no país, com previsão de chegar a 1,5 milhão até o final da década.
Além disso, a Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael) aponta que, desde 2020, a classe média alta, que antes comprava itens de luxo no exterior, passou a consumir internamente, elevando as vendas em 51,74% em setembro de 2021 em relação ao ano anterior. Esse movimento atraiu marcas globais como Tiffany & Co., que recentemente abriu sua quinta unidade no Brasil, acompanhada do exclusivo Blue Box Café.
Obras de Arte ou Ativos Financeiros?
Os relógios de luxo, especialmente de marcas como Rolex, Patek Philippe e Audemars Piguet, são frequentemente comparados a obras de arte devido à sua história, raridade e artesanato. Um relatório do Boston Consulting Group e Watch Box mostra que, nos últimos cinco anos, relógios seminovos valorizaram em média 20% ao ano, superando o índice S&P 500, que cresceu 8% no mesmo período. No entanto, em um horizonte de dez anos, o S&P 500 (12% ao ano) supera os relógios (7% ao ano), indicando que a valorização depende do período analisado.
Renato Thiesso, especialista em relojoaria, destaca que relógios vintage (anteriores a 1993) e “new old stock” (peças antigas nunca usadas) são os mais valorizados devido à sua raridade. Ele recomenda adquirir peças de fontes confiáveis, como a plataforma Chrono24, que verifica a autenticidade e oferece cerca de 500 mil relógios certificados. Thiesso também alerta que a manutenção é crucial: relógios bem conservados praticamente não perdem valor, enquanto a falta de cuidado pode levar à desvalorização.
Durante a pandemia, a demanda por relógios de luxo explodiu, com preços no mercado secundário disparando devido à escassez e à especulação. Contudo, desde 2022, o índice Bloomberg Subdial Watch registrou uma queda de 40% nos preços dos 50 modelos mais negociados, refletindo a volatilidade do mercado. Mesmo assim, marcas como Rolex lançaram programas como o “Certified Pre-Owned” para autenticar relógios usados, reforçando a confiança no mercado secundário.
O Investimento Mais Valorizado
Entre os acessórios de luxo, as bolsas se destacam como o item com maior valorização. Segundo o relatório Art Market Research, as bolsas de grifes como Hermès, Chanel e Prada registraram uma alta de 83% nos preços nos últimos dez anos, superando relógios (72%), livros de primeira edição (40%) e moedas antigas (20%). Modelos icônicos como a Hermès Birkin e a Chanel Classic Flap são particularmente cobiçados.
A bolsa Chanel Classic Flap Jumbo, por exemplo, valorizou 52% entre junho de 2020 e dezembro de 2021, superando o S&P 500 no mesmo período, segundo dados do The RealReal. Já a Hermès Diamond Himalaya Birkin, leiloada por US$ 450 mil em 2022, é considerada a bolsa mais cara do mundo. No Brasil, brechós de luxo como Gringa e Nobz relatam que bolsas clássicas raramente ficam em estoque por mais de cinco dias, evidenciando sua alta liquidez.
Cuidados com a preservação são essenciais para garantir a valorização. A Gringa recomenda guardar as bolsas com “dust bags” originais, arejá-las a cada dois meses e evitar contato com produtos anti-mofo, que podem danificar o couro. Essas práticas aumentam as chances de revenda rápida e lucrativa.
Versatilidade e Valor Duradouro
Joias, como anéis de marcas como Cartier e Tiffany & Co., também ganham espaço como investimentos. Ana Toledo, da Orit, sugere que anéis solitários e peças versáteis, que podem ser usadas em diferentes ocasiões, são ideais para iniciantes no mercado de luxo. No Brasil, marcas nacionais como Antonio Bernardo criam joias que rivalizam com grifes internacionais, combinando design autoral e materiais nobres.
O mercado de segunda mão para joias também cresce, impulsionado pela geração Z e pela busca por sustentabilidade. Segundo a ThredUp, o segmento de revendas de luxo deve movimentar US$ 60 bilhões globalmente até 2024. Brechós como Paris Brechó garantem autenticidade com curadoria especializada, tornando joias usadas uma porta de entrada acessível para o mercado de luxo.
Vaidade ou Investimento?
Do ponto de vista financeiro, investir em acessórios de luxo pode ser atraente, mas exige cautela. A exclusividade, a escassez e o prestígio de marcas como Rolex, Hermès e Chanel impulsionam a valorização, mas o mercado é volátil, como mostra a queda recente nos preços de relógios. Além disso, a autenticidade é um desafio: Lilian Marques Peixoto, da Front Row, alerta sobre falsificações sofisticadas, recomendando compras apenas em plataformas confiáveis.
Do perspectiva cultural e social, esses itens transcendem a vaidade. Eles representam status, história e artesanato, conectando o consumidor a uma narrativa de exclusividade. No entanto, como jornalista conservador, destaco que o consumo desenfreado pode levar ao endividamento, como apontado por uma pesquisa da MindMiners, que revelou que brasileiros das classes A e B muitas vezes se endividam para adquirir itens de luxo, como relógios Rolex e bolsas Chanel.
Acessórios de luxo podem ser mais do que vaidade: eles oferecem potencial de investimento, especialmente em mercados secundários aquecidos. Bolsas, relógios e joias de grifes renomadas combinam estética, exclusividade e valor financeiro, mas exigem conhecimento, cuidado e fontes confiáveis. Para o investidor conservador, a recomendação é clara: pesquise, priorize peças atemporais e evite impulsos. Assim, é possível aliar o prazer estético à possibilidade de retorno financeiro.
Fontes:
- Bain & Company: Luxury Report 2024
- Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael)
- Boston Consulting Group: Luxury Watch Market Trends
- Chrono24: Plataforma de Relógios de Luxo
- Bloomberg Subdial Watch Index
- Art Market Research: Luxury Market Trends
- The RealReal: Luxury Resale Market
- Gringa: Brechó de Luxo
- Nobz: Brechó de Luxo
- Metrópoles: Dicas para Comprar Peças de Luxo
- ThredUp: Resale Market Report
- Paris Brechó: Bolsas e Joias de Luxo
- Folha de S.Paulo: Brechós de Luxo
- Folha de S.Paulo: Endividamento por Luxo