A Soberania de Deus e os Desafios do Neopentecostalismo: Uma Análise à Luz das Escrituras

O neopentecostalismo, especialmente em suas vertentes mais extremas, diminui a soberania de Deus e distorce a autoridade e o poder da Palavra de Deus. Ao centralizar a experiência humana e a fé pessoal em detrimento da soberania do Senhor, esse movimento coloca o homem no centro da ação de Deus, sugerindo que o crente pode manipular os acontecimentos e até mesmo as bênçãos de Deus por meio da confissão, da ação de “decretar” “tomar posse” ou “determinar” a realidade. Essa visão, que sobrepõe a autoridade humana à divina, contrasta com o ensino claro das Escrituras, que destacam a soberania absoluta de Deus sobre todas as coisas e o caráter supremo da Sua Palavra. A Bíblia ensina que Deus é soberano sobre todas as áreas da vida, e a Palavra de Deus, em particular, não está sujeita aos desejos ou à manipulação humana.
Primeiramente, a soberania de Deus é fundamental em toda a Escritura, especialmente em passagens como
Isaías 46:9-10, onde o Senhor declara: “Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há ninguém semelhante a mim. Eu anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade, as coisas que ainda não aconteceram”.
Essa declaração demonstra que Deus está no controle absoluto de todas as coisas, e nada pode ser alterado por palavras humanas ou decretos. No entanto, no movimento neopentecostal, a ideia de que os crentes podem “determinar” a realidade ou “ordenar” bênçãos coloca em questão essa soberania divina, pois sugere que o crente tem autoridade para moldar o futuro conforme a sua vontade.
Em segundo lugar, o poder da Palavra de Deus é claramente descrito em
Isaías 55:11, onde Deus afirma: “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei”.
A Palavra de Deus, que é viva e eficaz (Hebreus 4:12), possui um poder intrínseco que não depende da intervenção humana para realizar seus propósitos. No entanto, o movimento neopentecostal tende a enfraquecer esse poder divino, transformando a Palavra de Deus em uma ferramenta que pode ser manipulada ou ajustada ao gosto do crente para garantir benefícios pessoais, como saúde, prosperidade e sucesso.
A Bíblia ensina, também, que a oração do crente deve se submeter à vontade de Deus e não a um “controle” humano sobre Deus ou sobre o que Deus fará. Jesus disse em
Mateus 6:10, “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”.
Este ensino reflete a verdade de que a oração cristã verdadeira não visa a manipulação dos desejos do crente, mas a submissão à vontade soberana de Deus. Em contraste, no neopentecostalismo, muitas vezes a oração é usada como uma ferramenta para “decretar” ou “ordenar” o que o crente deseja, com pouco ou nenhum espaço para a submissão à vontade de Deus.
Ademais, Tiago 4:13-15 nos lembra da limitação humana e da soberania divina sobre o futuro:
“Atendei agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, e lá passaremos um ano, e negociaremos e lucrarmos; dizeis, porém: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.”
Esse versículo ilustra claramente que qualquer plano humano deve ser colocado sob a autoridade da vontade de Deus. A ideia de que o cristão pode manipular ou alterar os planos divinos por meio da confissão positiva ou de decretos humanos vai contra a essência dessa passagem, que afirma a total dependência do ser humano sobre Deus para realizar qualquer coisa.
Em Romanos 9:20-21, o apóstolo Paulo reflete sobre a soberania de Deus ao lidar com o sofrimento e as situações da vida humana:
“Mas, ó homem, quem és tu que a Deus replicas? Porventura, o oleiro não tem poder sobre a massa, para da mesma lumpa fazer um vaso para honra e outro para desonra?”
Esse versículo reafirma que Deus, como o Criador soberano, tem total autoridade sobre as vidas humanas, sendo Ele quem determina o destino de cada um, sem a necessidade de intervenção ou manipulação do ser humano. O neopentecostalismo, ao sugerir que o ser humano pode “comandar” ou “ordenar” o que Deus fará, diminui essa soberania divina e transfere o controle para o homem.
Outro braço do neopentecostalismo é a Teologia da Prosperidade, também conhecida como “Evangelho da Prosperidade”, é uma doutrina central em muitos círculos neopentecostais. Ela prega que a vontade de Deus para os crentes é que sejam abençoados com riquezas materiais, saúde e sucesso pessoal. O ensino baseia-se na ideia de que a fé é a chave para desbloquear essas bênçãos. Segundo esta perspectiva, se um crente não está experimentando essas bênçãos, é porque está faltando fé ou há um pecado não resolvido em sua vida.
A Teologia da Prosperidade usa versículos como Salmos 23:1 (“O Senhor é o meu pastor; nada me faltará”) e Filipenses 4:19 (“E o meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus”) para justificar a abundância material como parte do plano de Deus. No entanto, a interpretação desses versículos, que são aplicados frequentemente para justificar a acumulação de bens materiais, carece de uma exegese adequada, desconsiderando o contexto histórico e teológico. A verdadeira prosperidade ensinada nas Escrituras não se refere apenas à abundância material, mas à plenitude da graça de Deus em Cristo e à fidelidade no cumprimento da missão cristã.
A Confissão Positiva, como mencionada, é uma doutrina intimamente relacionada à Teologia da Prosperidade, sendo promovida por figuras como Kenneth Hagin. Ela afirma que as palavras de um crente têm poder para criar ou destruir a realidade ao seu redor, um princípio baseado em uma interpretação superficial de passagens como Marcos 11:23 (“Em verdade vos digo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele”). Esse ensino coloca a fé humana como central, sugerindo que o crente pode “decretar” saúde, riquezas e bênçãos de maneira que, de acordo com as Escrituras, não está alinhado com a soberania de Deus e a submissão à Sua vontade.
Ainda dentro do movimento neopentecostal, é comum o uso de objetos espirituais, como “rosas ungidas”, “pulseiras” ou “sal”, que são vendidos como meios pelos quais os crentes podem alcançar bênçãos materiais ou espirituais. Esse tipo de prática se aproxima da superstição (o espiritismo gospel) e carece de respaldo nas Escrituras, que ensinam que nossa fé não deve estar em objetos ou rituais (fogueira santa, atos proféticos, seção do descarrego, etc…), mas exclusivamente em Deus
Isaías 42:8, Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outro não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.
A Bíblia condena a idolatria e a confiança em objetos, rituais e/ou movimentos como intermediários de bênçãos, como é claramente demonstrado em:
Êxodo 20:4-5, Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
⁵ Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
Outro misticismo é a Batalha Espiritual no neopentecostalismo um conceito controverso. Embora a Bíblia mencione a luta espiritual do cristão Efésios 6:12, o movimento enfatiza a ideia de que os crentes devem adotar estratégias espirituais ativas para combater forças demoníacas, como orações de comando e outras práticas que frequentemente se distanciam do ensino bíblico. Em Tiago 4:7, somos instruídos a
“resistir ao diabo, e ele fugirá de vós”
o que não implica que os crentes possam ou devam “dominar” o diabo de forma a controlar ou manipular a realidade espiritual. A verdadeira batalha espiritual é uma questão de sujeição à autoridade de Deus, não de exercer controle sobre as forças espirituais.
Sobre a Cura Interior, sugere que os crentes podem ser libertos de feridas emocionais e psicológicas por meio de oração proféticas ou rituais específicos, também carece de uma base sólida nas Escrituras. Embora a Bíblia fale sobre a cura do coração e da alma
Salmo 34:18, O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido.
a prática neopentecostal muitas vezes se desvia para abordagens que não encontram apoio nos ensinamentos bíblicos e que podem resultar em uma dependência excessiva de métodos não prescritos nas Escrituras.
Em última análise, o neopentecostalismo, ao distorcer a soberania de Deus, enfraquecer o poder da Palavra de Deus e distorcer ensinamentos fundamentais como a Teologia da Prosperidade e a Confissão Positiva, desvia o crente da verdadeira doutrina cristã. A verdadeira fé cristã, à luz da Sola Scriptura, deve se submeter à soberania de Deus, reconhecendo o poder invencível e incontrolável da Sua Palavra e Seu domínio absoluto sobre toda a criação. A confiança do crente deve ser totalmente em Deus e em Sua Palavra, que é viva, eficaz e soberana sobre todas as coisas.
Convido você a examinar as ESCRITURAS, pois nela está TODA A SUFICIÊNCIA para o cristão. É através da Palavra de Deus, que é a verdade, que o cristão conhece a Deus e mantém um relacionamento genuíno com Ele. A oração bíblica, em conformidade com a vontade de Deus, é a verdadeira oração, e ao viver de acordo com os ensinamentos da Palavra, o cristão se forma cada vez mais à imagem e semelhança de Deus, refletindo Seu caráter irrepreensível. Que a Palavra de Deus permaneça em seu coração e que você tenha a convicção da verdade, sabendo que em Sua soberania, Ele guia, ensina e transforma vidas.